A prova de que o planejamento é dinâmico e não estático

Qual o primeiro pensamento que vem a sua mente ao se projetar na seguinte situação: “Retornar das férias no Caribe no terceiro dia, sendo que o planejado era ficar 10 dias!”

Esse episódio ocorreu nas férias da minha família, e muitos poderiam pensar: “Férias frustradas!”. Mas para mim foi momento de muito aprendizado e que irei compartilhar nesse artigo.

Como planejadora financeira familiar,acompanho dezenas de famílias na organização de suas finanças, tendo como base um plano de qualidade de vida, com olhar para a construção e realizações de sonhos/objetivos. E adivinhem qual é um dos sonhos campeões no ranking de prioridade da maioria das famílias? Realizar uma viagem internacional.

Gosto de destacar que todos os conhecimentos sobre Planejamento Financeiro Familiar que aplico junto as famílias que acompanho, eu também aplico para a minha. Foi então, que em meados de 2019, eu e meu esposo, iniciamos o planejamento da tão esperada viagem dos sonhos com destino ao Caribe, mais especificamente Punta Cana.

E em fevereiro de 2020 já estávamos com tudo reservado, tudo pago, dólares comprados, aguardando apenas o dia do embarque, que seria em 15 de março de 2020.

Eis que um vírus chamado Covid-19 começou a modificar todo o cenário mundial, começamos a acompanhar fronteiras de alguns países sendo fechadas, restrições em alguns aeroportos, companhias áreas cancelando voos, etc.  

Dois dias antes do embarque, começamos a nos questionar:

– “Vamos ou não vamos viajar?”

– “Quais os riscos estamos sujeitos?”

– “Quais os cenários otimistas e pessimistas possíveis?”

Após muito pensar, muito ponderar e, sabendo que até aquele momento os voos e as fronteiras dos países que iríamos passar estavam funcionando, não havia casos registrados, ou divulgados, e não éramos grupo de risco, decidimos então embarcar dia 15 de março com retorno previsto para o dia 24 do mesmo mês.

Ao chegarmos no aeroporto de Punta Cana, perto do meio dia, fomos recebidos por uma pessoa parecendo um “astronauta” para medir nossa temperatura. Me senti segura ao ver que estavam tendo um cuidado e controle com as entradas no país.

Naquela tarde, chegando no resort, aproveitamos para um reconhecimento do local e para resolver alguns assuntos, entre eles o acesso à internet – para conseguirmos dar notícias e para acompanharmos o cenário mundial.

No primeiro dia (16 de março) percebemos que estava difícil relaxar com tantas notícias novas e incertezas no ar.

Uma das notícias que estávamos recebendo, era da possibilidade de fecharem alguns aeroportos para voos internacionais; a companhia America Airlines cancelou os voos para o Brasil até maio de 2020; entre outras notícias.

Eis que começam a surgir várias novas dúvidas e preocupações, que ocuparam um bom espaço nas nossas mentes e nas nossas conversas:

– “E se Brasília fechar o aeroporto mesmo?”

Solução encontrada: Podemos pousar em outro aeroporto do Brasil e viajar via terrestre.

­            – “E se a Copa Airlines, nossa companhia, cancelar os voos para o Brasil?”

Solução encontrada: Podemos voar com outra companhia, vai sair um pouco caro, mas tínhamos reserva de emergência e conseguiríamos chegar.

Bem! No segundo dia (17 de março) as “novidades” não paravam de chegar, logo no café da manhã:

  • O Panamá (cidade que faríamos a conexão) impediu a entrada de estrangeiros no país por 14 dias, mas ainda matinha o trânsito de conexão nos aeroportos.
  • Foi confirmada a primeira morte no Brasil causada pelo o Covid-19 (Coronavírus).
  • Outras companhias aéreas reduzindo drasticamente suas atividades internacionais para os próximos meses.

E assim as perguntas e incertezas não paravam de surgir.

Foi então que recordei de um aspecto que tanto reforço com meus clientes:

O planejamento não é uma linha reta, mas sim curvas que conectam um “Ponto A” (Onde estou) para um “Ponto B” (Onde quero chegar).

Nesse momento sentei com meu esposo e conversamos sobre o nosso “Ponto A”, o nosso “Ponto B”, os riscos identificados e fizemos as seguintes reflexões:

  • A cada dia o cenário piora, e não é algo que irá se resolver em poucos dias ou semanas, a tendência é mais países fecharem fronteiras e mais voos serem cancelados.
  • O nosso Ponto A foi quando iniciamos o planejamento das nossas férias, e qual o nosso Ponto B? A primeira resposta que vem a mente poderia ser curtir e aproveitar juntos o Caribe por 10 dias. No entanto, diante desse cenário, e estando há 2 dias em Punta Cana, reforçamos que o nosso Ponto B não era necessariamente estar 10 dias juntos no Caribe, mas sim estarmos 10 dias juntos em qualquer lugar, em família, com a mente serena, seguros e com saúde.

Identificamos também que, se nosso ambiente interno, nossos pensamentos, não estão serenos, tranquilos e estão tomados apenas por preocupações que fogem do nosso controle, não valia a pena seguir rigorosamente com aquele plano inicial, ficando até dia 24/03.

Além das reflexões e pensamentos, o sentir nos dizia que era a hora de voltar.

Com isso, concluímos que melhor que estarmos no paraíso do Caribe, era manter o nosso “paraíso interno”, mantendo a tranquilidade, serenidade, segurança.

Foi então que ainda no segundo dia de estadia resolvemos antecipar nosso retorno, e com a decisão tomada em família, encaminhamos as seguintes providências:

  1. Antecipamos o nosso retorno do dia 24/03 para 18/03 pela Copa Airlines, por telefone e sem custo.
  • Como o hotel já estava pago, conseguimos um crédito de 6 dias para retornar ao Hotel nos próximos 15 meses – o que não será nada mal voltar em Punta Cana, com um cenário mais tranquilo e seguro.
  • Reduzimos o pacote de internet contratado no hotel.

Naquele dia, já com as providências encaminhadas, decidimos curtir da melhor forma possível nosso último dia no resort, evitamos olhar as notícias com tanta frequência,   mergulhamos nas lindas águas cristalinas do Caribe, aproveitamos as piscinas, a jacuzzi (que estavam bem vazias),  os drinks mais bonitos e deliciosos, jantar romântico, e, já no fim do dia, arrumamos as malas revigorados e certos da nossa decisão.

Essa experiência gerou muito aprendizado, reforçando a importância do planejamento financeiro tendo como base um plano de qualidade de vida.  

E da forma mais intensa vivenciamos que o planejamento é dinâmico e não estático, destacando a relevância da análise de cenários e da importância de sempre rever a rota.

Durante todo o período da viagem tomamos todas as precauções possíveis, evitando espaços fechados, aglomerações, lavando frequentemente as mãos, evitando contato físico – aperto de mão – utilizando de álcool em gel, etc. Nos voos, observamos muitas pessoas entrando na aeronave, com lenços umedecidos com álcool e higienizando seu espaço (janela, mesinha).

Estamos felizes de termos regressado ao nosso país – mesmo que antes do previsto – e sem o pensamento de férias frustradas, mas com o pensamento de que valeu a pena cada minuto, e de que foi a decisão mais prudente a ser tomada nesse momento.

Ao chegarmos em casa também tomamos as precauções de realizar uma higienização de tudo que voltou com a gente – malas, calçados, roupas, objetos – além da limpeza de todo o apartamento (pisos e superfícies).

Retornamos e continuaremos nossas férias em quarentena e felizes, pois como casal, como família estaremos juntos aproveitando o aconchego do nosso lar, aproveitando o tempo para rever nosso planejamento, e individualmente aproveitar para estudar, ler, e no meu caso, me preparar ainda mais para ajudar mais e mais famílias a estarem preparadas para o presente e futuro, enfrentando os desafios que os cenários nos apresentam.

Pricila L. Topolski